sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A MORDAÇA QUE PRENDE ANDA À SOLTA

A MORDAÇA QUE PRENDE ANDA À SOLTA

Segunda-feira, 6 de outubro de 2008. À página 33 do jornal à direita O Globo, estende-se a reportagem publicada no dia anterior pelo jornal à esquerda A Folha de São Paulo, sobre a demissão do brilhante professor e poeta Oswaldo Martins Teixeira, da Escola Parque demitido em 11 de setembro, data que parece querer configurar-se no calendário como um dia destinado ao terror, desde que os “osamitas” americanizados e pela inteligência norte-americana treinados investiram contra as Torres Gêmeas em Nova Yorque.

Demitir e admitir profissionais, em todas as áreas de serviços e conhecimentos, incluindo o magistério, é uma prática diária, dadas as necessidades, vontades e adequações dos empregadores e empregados, no intuito de busca de melhor produtividade, maior competitividade e melhoria da qualidade dos serviços prestados à população e, especificamente, os clientes. Não, não se pode questionar o processo demissionário de nenhuma empresa privada que tenha a honradez de pautar no princípio da ética e da conduta de seus funcionários, seu desempenho e competência, adequação à missão da empresa etc., e não por intrigas de colegas interessados em funções desempenhadas pelos demitidos, ou mera repressão por uma maneira de crer, de votar ou de expressar suas opiniões pessoais, sejam elas relativas à política, ao cotidiano, ao sexo ou à religiosidade.

Causa estranheza, no caso publicado pelos jornais, o motivo da demissão do professor: ser autor de poemas eróticos. Em nenhum momento se questiona a competência do professor, seu trabalho sério e comprometido, mas a atenção hipócrita de uma sociedade de fachada, pseudo-moralista, a uma particularidade da vida artística e intelectual do “réu”, em seus momentos privados, desvinculados da ação no magistério e da escola.

Começa-se pela censura imposta aos livros indicados pelo professor (“A Jogadora de Go” da autora chinesa Shan Sa e “Crônica de uma Morte Anunciada” clássico de Gabriel Garcia Márquez) até o processo que culmina da demissão, provocada a partir do momento em que alguns alunos descobriram poemas eróticos seus na Internet e divulgaram entre eles.

O Globo, numa reportagem aparentemente imparcial, ouve dentre muitos intelectuais, Antonio Carlos Secchin, imortal e professor titular de literatura da UFRJ, que declara que “qualquer medida que privilegia o obscurantismo deve ser repudiada. O livre-arbítrio e o acesso à informação são básicos para a cidadania”. O ex-aluno do professor, ex- Engenheiros do Hawaí e atualmente produtor Bernardo Fonseca faz coro com Secchin e declara: “Isto é censura a um artista. Ele foi um dos melhores professores que eu já tive. Ele não pode trabalhar porque não pode se expressar? Isso é ditadura”.

Pois é assim que também nós, ainda longe do patamar intelectual e militante das personalidades que têm se manifestado a favor do professor, entendemos: ditadura. Censura. Mordaça. Se essa moda pega, começa-se com a desculpa de impropriedade de temas como sexo e acabará por atingir às posturas filosóficas, às crenças religiosas e ao pensamento político. Se amordaçam-nos fora do exercício do magistério, em breve o farão dentro de nossos espaços de discussão (com Teixeira, tentaram fazer os dois) e as aulas robotizadas, reprodutoras de ideologias pregadas pelos sistemas de ensino que querem encampar a educação como uma fonte de lucro e não um bem público, esse tipo de aula, defendida pela revista Veja (edição de 20 de agosto de 2008, crítica a Paulo Freire) tomará conta dos espaços escolares e acabar-se-á por definir como perfil ideal do professor aquele que acena positivamente aos apelos do capitalismo selvagem, da falsa moral dos que alugam prostitutas e travestis e depois não querem pagá-los ou os espancam e não aquele que ensina com compromisso pela qualidade da educação, assumindo seu lado artista, político, filosófico, sexual etc., não deixando que um interfira no outro.

Querem nos amordaçar. As mordaças já estão nas mãos dos carrascos e a ordem já foi dada. Orquestram-se ações para construir uma escola finlandesa, nas realidades do subdesenvolvimento, da pobreza, da miséria e da cultura diversificada e pluralista que em nada se assemelha aos países europeus ricos e exploradores dos pobres. Demissões como esta, não compreendida por pais e alunos que respeitam a liberdade de expressão e separam o cidadão do profissional, têm que ser combatidas, não pelo processo de demissão em si, mas pelos motivos que ousam querer justificar tais atitudes.

Faz-se necessário que os “corporativos” profissionais da educação se unam. Não para acampar-se em frente às mantenedoras de ensino, pois é possível estabelecer uma relação de diálogo, de produtividade e de qualidade do ensino, numa relação respeitosa entre empregado e empregador, mas para repudiar ações que invadam a vida privada dos profissionais que querem mostrar a sua arte.
10-10-2008

3 comentários:

Sol disse...

Tinha que ser meu professor.. Revolucionário como sempre... expressando as idéias sem medo do que os outros vão falar. É isso aí. Tem que ser assim mesmo! É um exemplo a ser seguido.

Atentador disse...

è incrível a facilidade com que você trata de termos e ideias tão velados achei nota dez...um beijo

Ana Paula disse...

Retire a mordaça que prende a sua voz e derrube o "gigante Adamastor" que tenta nos amedrontar...bjs e reverências...